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Benzeno: O Conhecimento prevenindo o Risco.

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Como o benzeno entra em nosso corpo?

O benzeno pode entrar em nosso corpo principalmente através da respiração, da pele e, em alguns casos, pela ingestão.

Ele é totalmente absorvido pelo nosso corpo?

A maior parte do benzeno que nós respiramos é eliminada pela expiração. O que é absorvido na corrente sanguínea se acumula principalmente em tecidos com alto teor de lipídios. A absorção varia entre 10% a 50% dependendo da dose, do metabolismo e da quantidade de gordura presente no organismo. Na sua forma inalterada, o benzeno é eliminado através do ar expirado e em torno de 0,1%, apenas, é eliminado na urina. O que continua no organismo é transformado principalmente no fígado e na medula óssea e eliminado na urina na forma de metabólitos (em epecial fenol, catecol, hidroquinona, ácido fenil mercaptúrico e ácido trans, trans mucônico). A ingestão de alimentos ou água com níveis altos de benzeno pode causar vômitos, irritação gástrica, tonteira, convulsões, taquicardia, coma e morte. Também é absorvido através da pele. A absorção é mais rápida quando há algum ferimento (OSHA).

Qual é a principal via pela qual o benzeno penetra no corpo?

A respiração é a via mais importante de absorção, pois a área do nosso sistema respiratório capaz de absorver o benzeno é muito grande. Além disso, é mais difícil evitar que a pessoa respire o produto que está disperso no ar do que controlar a sua penetração pela pele ou a sua ingestão.

Como o benzeno pode ser absorvido por outras vias?

O benzeno e os produtos que o contêm (gasolina, por exemplo), quando em contato com a pele, são absorvidos e passam para a corrente sanguínea podendo provocar os mesmos danos de quando é inalado. A absorção de vapor de benzeno pela pele, no entanto, é muito baixa e não excede 1% do que é absorvido pela respiração na mesma condição, mas, por se tratar de substância cancerígena, é significante do ponto de vista do risco à saúde. A absorção pode ser mais rápida no caso de pele com ferimento e o benzeno pode ser mais rapidamente absorvido se estiver presente em uma mistura (gasolina, por exemplo) ou como contaminante em solventes (OSHA).

O benzeno afeta a saúde?

Sim. É um produto muito tóxico, principalmente para o sistema formador de sangue, e pode causar câncer.

Como o benzeno afeta a saúde?

Os efeitos podem surgir rapidamente, em geral quando há exposição a altas concentrações (efeitos agudos), ou mais lentamente (efeitos crônicos).

O benzeno em altas concentrações é uma substância bastante irritante para as mucosas (olhos, nariz, boca etc.) e, quando aspirado, pode provocar edema (inflamação aguda) pulmonar e hemorragia nas áreas de contato. Também provoca efeitos tóxicos para o sistema nervoso central, causando, de acordo com a quantidade absorvida: períodos de sonolência e excitação, tontura, dor de cabeça, enjoo, náusea, taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsão, perda da consciência e morte. A morte por benzeno em intoxicações agudas ocorre por arritmia cardíaca. Os casos de intoxicação crônica podem variar de simples diminuição da quantidade das células do sangue até a ocorrência de leucemia ou anemia aplástica, condições muito graves.

O National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) estabelece um IPVS (índice imediatamente perigoso à vida e à saúde) de 500 ppm para o benzeno (NIOSH, 1994). Quanto aos efeitos da exposição em longo prazo ao benzeno (crônicos), podem ocorrer: alteração na medula óssea, no sangue, nos cromossomos, no sistema imunológico e vários tipos de câncer. Também pode ocasionar danos ao sistema nervoso central e irritação na pele e nas mucosas.

Qual a ação do benzeno sobre a medula óssea e, por consequência, no sangue?

Os efeitos sobre o sistema sanguíneo são os mais importantes nas intoxicações crônicas. O benzeno age, através de seus produtos de transformação, sobre a medula óssea, atingindo as células do sistema formador de sangue.

Que alterações o benzeno pode provocar no sangue?

O benzeno pode provocar qualquer uma destas alterações, sendo a eosinofilia e a leucopenia as alterações precoces da intoxicação benzênica. Esta ação é chamada de efeito mielotóxico. Há relação causal comprovada entre exposição ao benzeno e ocorrência de leucemia. A leucemia mais comum relacionada à intoxicação por benzeno é a leucemia mieloide aguda, porém as outras leucemias também estão associadas ao benzeno. Por vezes, a leucemia se instala muito tempo após cessar a exposição ao benzeno. Há também comprovação da relação causal entre exposição ao benzeno e aplasia de medula, não sendo certo que haja ligação entre esse quadro e a leucemia ou se são eventos separados. De qualquer forma, a aplasia de medula é o maior fator de risco para a ocorrência de leucemia.

São referidos 3 mecanismos fundamentais de mielotoxicidade do benzeno:

1. Depressão das células progenitoras primitivas e indiferenciadas (Stem cells).

2. Lesão do tecido de medula óssea.

3. Formação clonal de células primitivas afetadas decorrentes de danos cromossomiais dessas células.

Não há limite seguro para a exposição ao benzeno. Na intoxicação pelo benzeno não há definição estabelecida quanto à dose-dependência para sua ação cancerígena. Não há dose mínima para que haja a ação cancerígena, não possuindo, portanto, limite seguro de exposição, mesmo em baixas concentrações. Esta afirmação pode ser encontrada na legislação brasileira na legislação da União Europeia, em documento da NIOSH e no texto da Agency for Toxic Substances and Disease Registry. Esta é a agência federal dos Estados Unidos para o registro de substâncias tóxicas e doenças.

Que outros tipos de alterações podem ser provocadas pela exposição ao benzeno?

Alterações cromossomiais: Foram observadas alterações nos cromossomos, numéricas e estruturais, em linfócitos e células da medula óssea de trabalhadores expostos ao benzeno. É possível fazer avaliação de danos cromossomiais através de técnicas citogenéticas. Pela citogenética, estuda-se a constituição genética da célula através dos cromossomos.

O que são cromossomos?

São minúsculas estruturas que contêm o código genético (DNA e RNA) que controla e orienta a divisão celular, além do seu crescimento e função. As nossas células possuem 46 cromossomos.

Alterações imunológicas

As manifestações imunológicas da toxicidade do benzeno estão relacionadas diretamente às alterações na produção de células de defesa (leucócitos) e indiretamente aos efeitos que provocam na imunidade que as pessoas podem adquirir através da produção de anticorpos.

Alterações dermatológicas

Podem ocorrer vermelhidão e irritação crônica por contato com o benzeno. Alterações neuropsicológicas e neurológicas O benzeno, assim como todos os solventes, pode causar falha no processo de aquisição do conhecimento, detectado nas áreas correspondentes a: atenção, percepção, memória, habilidade motora, visoespacial (percepção do espaço, capacidade de observar o movimento de um objeto no espaço), visoconstrutiva (capacidade de observar e de construir um objeto a partir de um modelo), função executiva (envolve o planejamento, a organização e a sequência de como realizar uma tarefa), raciocínio lógico, linguagem e aprendizagem. Além dessas, surgem outras alterações, como: astenia (cansaço), cefaleia, depressão, insônia, agitação e alterações de comportamento. São também descritos quadros de polineuropatias (afecções que atingem vários nervos) periféricas e inflamações da medula espinhal. Medula significa miolo, assim, medula espinhal é o “miolo da espinha”.

Alterações auditivas

No sistema auditivo, assim como ocorre com outros solventes orgânicos, podem aparecer alterações tanto periféricas, como centrais e podem ser observadas: perdas auditivas neurossensoriais (diminuição gradual da audição), zumbidos, vertigens e dificuldades na interpretação do que se ouve.

Aborto espontâneo e problemas menstruais

Existem estudos indicando aumento de abortos espontâneos e problemas menstruais em mulheres expostas.

Outros tipos de câncer

A exposição ao benzeno também está associada com câncer do sistema linfático (linfoma) e câncer de pulmão e de bexiga (urotelial). Tanto as doenças, ou linfomas de Hodgkin, como não-Hodgkin  estão associados à exposição ao benzeno. Linfomas são formas de câncer que se originam nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático, um conjunto composto por órgãos, tecidos que produzem células responsáveis pela imunidade e vasos que conduzem estas células através do corpo.

Alguns estudos também relacionam o benzeno com câncer de mama em mulheres. Outro estudo indica um aumento de câncer de mama em homens que trabalham em profissões em que há a possibilidade de exposição a vapores de gasolina e combustão.

O que é benzenismo?

Benzenismo é um conjunto de sinais, sintomas e complicações decorrentes da exposição aguda ou crônica ao benzeno. As complicações podem ser agudas quando ocorre exposição a altas concentrações com presença de sinais e sintomas neurológicos, ou crônicas, com sinais e sintomas clínicos diversos, podendo ocorrer complicações a médio ou a longo prazos, localizadas principalmente no sistema hematopoiético (formador de sangue).

Como se faz o diagnóstico do benzenismo?

O diagnóstico de benzenismo, de natureza ocupacional, é eminentemente clínico e epidemiológico, fundamentando-se na história de exposição ocupacional e na observação de sintomas e sinais clínicos e laboratoriais descritos anteriormente.

Entende-se como exposição ocupacional a exposição ao benzeno, decorrente de atividades nos ambientes de trabalho, em concentrações no ar acima de níveis populacionais, ou seja, acima das concentrações a que pode estar exposta a população em geral. Refere-se à exposição decorrente do processo produtivo e se soma à exposição ambiental. Na falta de dados da região, utilizar padrões de literatura para determinar o patamar de exposição não ocupacional.

Em pessoas potencialmente expostas ao benzeno, todas as alterações hematológicas devem ser valorizadas, investigadas e justificadas.

O trabalhador deve passar por exames periódicos clínicos e laboratoriais. Entre os exames de laboratório, é necessário fazer um hemograma completo semestralmente. O hemograma é um dos principais instrumentos laboratoriais para detecção de alterações sanguíneas causadas por efeitos na medula óssea em casos de exposição ao benzeno. O resultado do hemograma deve ser comparado com valores de referências qualitativos (quanto à forma e ao tamanho das células) e quantitativos (quanto ao número dos diversos tipos de células do sangue). Esses valores devem ser os do próprio indivíduo em período prévio à exposição a qualquer agente mielotóxico (que provoca danos à medula óssea). Do ponto de vista prático, caso estes valores sejam desconhecidos, admite-se como supostamente anormal toda leucopenia para a qual, após ampla investigação, nenhuma outra causa tenha sido encontrada que a justifique. O diagnóstico é feito por exclusão.

Deve-se salientar que todos os trabalhadores expostos ao benzeno, portadores de leucopenia isolada ou associada à outra alteração hematológica, são, em princípio, suspeitos de serem portadores de lesão da medula óssea mediada pelo benzeno. A partir desse ponto de vista, na ausência de outra causa, a leucopenia deve ser atribuída à toxicidade por essa substância.

Segundo a Norma de vigilância à saúde dos trabalhadores expostos ao benzeno, instituída pela Portaria nº 776 (BRASIL, 2004), devem ser alvo de investigação os trabalhadores que apresentarem:

1, Queda relevante e persistente da leucometria, constatada através de 3 (três) exames com intervalo de 15 (quinze) dias, com ou sem outras alterações associadas.

A portaria estabelece um índice arbitrário de 20% de redução da leucometria para ser considerado como queda significativa em relação aos critérios anteriores. Essa taxa poderá ser reavaliada, baseada em novos estudos. Quando o médico suspeitar de variações menores e da presença de outras alterações hematológicas, estas alterações devem ser consideradas para a indicação de exames complementares. Observação: na análise de séries históricas consolidadas com grandes períodos de acompanhamento, deve ser considerado o patamar pré-exposição ou o mais próximo possível desse período.

2. Presença de alterações hematológicas em hemogramas seriados, sem outros achados clínicos que as justifiquem, como:

– Aumento do volume corpuscular médio (macrocitose), diminuição do número absoluto de linfócitos (linfopenia ou linfocitopenia);

– Leucocitose persistente;

– Alterações neutrofílicas: pontilhado basófilo, hipossegmentação dos neutrófilos (pseudo Pelger);

– Presença de macroplaquetas;

– Leucopenia com associação de outras citopenias (plaquetopenia).

Quando o médico deve considerar um caso suspeito de benzenismo?

Ainda segundo a Portaria nº 776, considera-se caso suspeito de toxidade crônica por benzeno a presença de alteração hematológica relevante e sustentada. A relevância foi definida nos critérios anteriores e a sustentabilidade considerada mínima é definida após a realização de 3 hemogramas com intervalos de 15 dias entre eles.

Nas situações em que persistem as alterações nesse tempo mínimo de 45 dias, considera-se o caso suspeito. Deve ser iniciada investigação segundo o item 4.1.4 “Protocolo de Investigação de Caso Suspeito” da mesma norma.

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