Há alguns anos, não existiam Instituições de Ensino Superior em todas as cidades do interior e, as que existiam, na maioria das vezes não atendiam às necessidades de cursos pretendidos, obrigando as famílias a enviarem seus filhos para estudarem nos grandes centros. Hoje, mesmo a cidade contando com a estrutura de duas grandes Faculdades, como o Centro Universitário de Caratinga- Unec, com cerca de vinte e cinco cursos de graduação e dezenas de outros cursos, ainda hoje vários cidadãos buscam os grandes centros para estudarem.
Meus pais me mandaram para Belo Horizonte, mesmo contra minha vontade, já que sempre gostei de estar próximo da família e amigos. Eu era apaixonado por esta cidade. Em BH, fui morar na casa de minha tia que tinha nove filhos, sendo que alguns estudavam no Colégio Arnaldo, onde também fui fazer o 2º ano do ensino médio. Já naquela época havia a exigência dos uniformes no colégio de padres alemães, muito rígidos, gerando naquele momento uma grande insatisfação aos alunos e professores, que estavam com as normas ditadas pelos padres.
Nesta época, um novo diretor foi administrar o colégio. Chamava-se Padre Otávio e, foi através dele, que tive contato, pela primeira vez, com um conceito cujo significado não entendia corretamente, apresentado pela união de duas palavras: liberdade com responsabilidade. Ele colocou placas com a frase em todos os corredores, construiu uma sala no pátio que todos chamavam de grêmio, onde tinham uma mesa de sinuca, tênis de mesa, xadrez, dama, televisão e outros objetos. A partir desta data ele aboliu o uniforme, o aluno que chegava atrasado para o primeiro horário não era mandado de volta para casa e sim para o grêmio, aqueles alunos que estavam perturbando as aulas ou mesmo não querendo assisti-la simplesmente comunicavam ao professor e também iam para lá.
Não podíamos ficar nos corredores e, no início desse novo procedimento, o grêmio era o local mais frequentado da escola. Que coisa boa era a liberdade de fazer o que quiséssemos. Tínhamos a decisão de poder escolher.
A parte acadêmica mudou. Com a mesma criatividade, trouxe novos professores e, com eles, novo projeto pedagógico. A liberdade oferecida gerou muitas notas baixas, levando-nos ao aprendizado e ao entendimento da união das tais palavras: Liberdade e Responsabilidade. O novo diretor forneceu a todos nós a liberdade de assistir as aulas ou não, e de chegar atrasado, mas mostrou a todos nós a responsabilidade de estudar.
Implementou as monitorias à tarde para quem estudava de manhã, então, não tínhamos tempo livre. Aprendi muito e até hoje procuro integrar estas duas palavras em minha conduta. Pode parecer fácil, mas tem uma dimensão de muita disciplina.
Aprendemos naquela época que todas as nossas atitudes ou ações correspondiam a uma consequência que podia ser positiva ou negativa. A responsabilidade seria um agente limitador da liberdade e que esta responsabilidade dependeria dos valores éticos de cada pessoa.
Podíamos ter a decisão de fazer tudo o queríamos, mas sabendo que as nossas escolhas gerariam consequências, negativas ou positivas, variando em função da responsabilidade apreendida.
Estamos num mundo globalizado e com mudanças constantes, novas tecnologias, novos padrões de comportamento promovidos pelas mídias, interação com novas culturas, enfim, estamos em processo de mudança e temos que adaptar a este novo ciclo.
Diante do cenário atual na educação, onde vemos agressões físicas e morais aos professores, pelo Estado, pelos pais e pelos alunos – na falha do Estado em educar –, alguns propõem a redução da maioridade. Isso representa cada vez mais jovens trancados em prisões sem nenhuma condição de recuperação em meio à corrupção em todos os níveis do Estado e da sociedade. Onde está a responsabilidade de cada um? O que se vê, com frequência, é liberdade em sintonia com libertinagem… Temos que repensar nossas condutas em favor de um mundo melhor, com valores positivos fortes… Precisamos construir, de forma inovadora, um novo modelo para coibir a falta de disciplina.
É muito fácil fazer as escolhas, existem muitos caminhos: estudar ou não estudar, trabalhar ou não trabalhar, obedecer aos pais ou não obedecê-los, respeitar o nosso Brasil ou não respeitá-lo, fazer sexo sem qualquer cuidado ou fazê-lo com responsabilidade. A única certeza é que, em qualquer dos caminhos escolhidos, haverá a danada da consequência, que terá influência no resto de nossas vidas, em um caminho sem volta.
Temos a liberdade da escolha, mas também temos as consequências, então vamos buscar direcionamento nos nossos valores familiares, éticos, religiosos, políticos e sociais.
José Carlos Moreira – Gerente de Projetos da UNEC – Universidade Caratinga