O envenenamento ocorre quando a serpente consegue injetar o conteúdo de suas glândulas venenosas, mas nem toda picada leva ao envenenamento. Isso porque há muitas espécies de serpentes que não possuem presas ou, quando presentes, estão localizadas na parte de trás da boca, o que dificulta a injeção de veneno ou toxina.
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Como prevenir acidentes com serpentes
- O uso de botas de cano alto ou perneira de couro, botinas e sapatos pode evitar cerca de 80% dos acidentes.
- Usar luvas de aparas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas, etc. Não colocar as mãos em buracos. Cerca de 15% das picadas atingem mãos ou antebraços.
- Cobras se abrigam em locais quentes, escuros e úmidos. Cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana. Cuidado ao revirar cupinzeiros.
- Onde há rato, há cobra. Limpar paióis e terreiros, não deixar lixo acumulado. Fechar buracos de muros e frestas de portas.
- Evitar acúmulo de lixo ou entulho, de pedras, tijolos, telhas e madeiras, bem como não deixar mato alto ao redor das casas. Isso atrai e serve de abrigo para pequenos animais, que servem de alimentos às serpentes.
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O que fazer em caso de acidente com serpentes
- Lavar o local da picada apenas com água ou com água e sabão.
- Manter o paciente deitado.
- Manter o paciente hidratado.
- Procurar o serviço médico mais próximo.
- Se possível, levar o animal para identificação.
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O que não fazer em caso de acidente com serpentes
- Não fazer torniquete ou garrote.
- Não cortar o local da picada.
- Não perfurar ao redor do local da picada.
- Não colocar folhas, pó de café ou outros contaminantes.
- Não beber bebidas alcoólicas, querosene ou outros tóxicos.
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Tratamento em caso de acidentes com serpentes
O tratamento é feito com o soro específico para cada tipo de envenenamento. Os soros antiofídicos específicos são o único tratamento eficaz e, quando indicados, devem ser administrados em ambiente hospitalar e sob supervisão médica.
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Agentes Causais
São 4 os gêneros de serpentes brasileiras de importância médica (Bothrops, Crotalus, Lachesis e Micrurus) compreendendo cerca de 60 espécies. Alguns critérios de identificação permitem reconhecer a maioria das serpentes peçonhentas brasileiras, distinguindo-as das não peçonhentas:
- As serpentes peçonhentas possuem dentes inoculadores de veneno, localizados na região anterior do maxilar superior. Nas Micrurus (corais), essas presas são fixas e pequenas, podendo passar despercebidas.
- Presença de fosseta loreal – com exceção das corais, as serpentes peçonhentas têm entre a narina e o olho um orifício termo receptor, denominado fosseta loreal. Vista em posição frontal este animal apresentará 4 orifícios na região anterior da cabeça, o que justifica a denominação popular de “cobra de quatro ventas”.
- As corais verdadeiras (Micrurus) são a exceção à regra acima referida, pois apresentam características externas iguais às das serpentes não peçonhentas (são desprovidas de fosseta loreal, apresentando coloração viva e brilhante). De modo geral, toda serpente com padrão de coloração que inclua anéis coloridos deve ser considerada perigosa.
- As serpentes não peçonhentas têm geralmente hábitos diurnos, vivem em todos os ambientes, particularmente próximos às coleções líquidas, têm coloração viva, brilhante e escamas lisas. São popularmente conhecidas por “cobras d’água”, “cobra cipó”, “cobra verde”, dentre outras numerosas denominações. Estão relacionadas, abaixo, as espécies consideradas de maior importância médico-sanitária, em face do número ou da gravidade dos acidentes que provocam, nas diversas regiões do país.
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Grupos de Serpentes
Grupo Botrópico
Apresentam cabeça triangular, fosseta loreal, cauda lisa e presa inoculadora de veneno.
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(1) Poucos relatos de casos. Acidentes graves.
(2) Até o presente, é a espécie responsável pela maioria dos registros de acidentes na Amazônia.
(3) Os distúrbios de coagulação são as manifestações mais comumente registradas. Acidentes com poucas alterações locais, geralmente benignos.
(4) Principal agente causal nos estados de MG, ES, RJ e SP. Casos graves ou óbitos são pouco frequentes.
(5) Acidentes relatados, principalmente em SC. Acidentes graves com casos fatais.
(6) Causa frequente de acidentes atendidos na cidade de Salvador, BA.
(7) Responsável pela maioria dos registros de acidentes no oeste de SP, oeste de MG e dos atendimentos em Goiânia, GO.
(8) Amplamente distribuída pelo território nacional, com exceção da Amazônia. Acidentes geralmente com bom diagnóstico.
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Grupo Crotálico
Tem cabeça triangular, presença de fosseta loreal, cauda com chocalho (guizo) e presa inoculadora de veneno.
(1) Há 5 subespécies de cascavéis no país. Os acidentes caracterizam-se pela sintomatologia sistêmica exuberante, com poucas manifestações locais.
(2) Dados recentes relatam C. Durissus no litoral da Bahia.
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Grupo Laquético
Tem grande porte, cabeça triangular, fosseta loreal e cauda com escamas arrepiadas e presa inoculadora de veneno.
(1) Com duas subespécies, é a maior serpente peçonhenta das Américas. Poucos relatos de acidente onde o animal causador foi trazido para identificação.
(2) Existem semelhanças nos quadros clínicos entre os acidentes laquético e botrópico, com possibilidade de confusão diagnóstica entre eles. Estudos clínicos mais detalhados se fazem necessários para melhor caracterizar o acidente laquético.
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Grupo Elapídico
São desprovidas de fosseta loreal, com cabeça arredondada e presa inoculadora de veneno. A característica fundamental no reconhecimento desse grupo é o padrão de coloração, com combinações diversas de anéis vermelhos, pretos e brancos. Deve-se considerar que existem serpentes com desenhos semelhantes aos das corais, mas que não possuem presa inoculadora. Há ainda, na Amazônia, corais verdadeiras com cor marrom escura, quase negra e ventre avermelhado.
Esse grupo compreende 18 espécies, distribuídas amplamente pelas diferentes regiões do país. A M. Corallinus é a que tem causado maior número de acidentes, dentre os poucos casos registrados em SC e SP. Na Bahia, a maioria dos acidentes são devidos a M. Ibiboboca.
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Distribuição, Morbidade, Mortalidade e Letalidade
A distribuição sazonal dos casos, embora apresente diferenças regionais mostra, para o país como um todo, incremento no número de casos no período de setembro a março. Sendo a maioria das notificações procedentes das regiões meridionais do país, a tendência detectada estaria relacionada, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, ao aumento da atividade humana nos trabalhos do campo (preparo da terra, plantio e colheita) e da não utilização de equipamentos mínimos de proteção individual (calçados ou vestimenta adequados).
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Cerca de 75% dos casos notificados são atribuídos às ser-pentes do gênero Bothrops; 7% ao gênero Crotalus; 1,5% ao gênero Lachesis; 3% devidos às serpentes não peçonhentas e 0,5% provocados por Micrurus. Em aproximadamente 13% das notificações, não são especificados os gêneros das serpentes envolvidas nos acidentes. Cerca de 70% dos pacientes são do sexo masculino, o que é justificado pelo fato do homem desempenhar com mais freqüência atividades de trabalho fora da moradia, onde os acidentes ofídicos habitualmente ocorrem. Em aproximadamente 53% das notificações, a faixa etária acometida situou-se entre 15-49 anos, que corresponde ao grupo de idade onde se concentra a força de trabalho.
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O acometimento dos segmentos pé/perna em 70%, e mão/antebraço, em 13% dos casos notificados, decorre da não utilização de equipamentos mínimos de proteção individual, tais como sapatos, botas, calças de uso comum e luvas.
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No Brasil são notificados anualmente cerca de 20.000 acidentes, com uma letalidade em torno de 0,43%. O acidente crotálico tem a pior evolução, apresentando o maior índice de letalidade. Os valores detectados para os diver-sos tipos de acidentes assim se distribuíram: Botrópico, 0,31%; Crotálico, 1,85%; Laquético, 0,95% e Elapídico, 0,36%. Em cerca de 19% dos óbitos não são informados os gêneros das serpentes envolvidas nos acidentes.
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Acidente Botrópico – Jararacas (Bothrops)
Corresponde ao acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país. A taxa de letalidade é de 0,3%.
No Paraná, são encontradas com maior frequência: Bothropsalternatus (urutu, cruzeira, urutu cruzeiro), Bothrops jararaca (jararaca, jararaca do rabo branco), B. jararacuçu(jararacuçu), B. moojenii (caiçaca, jararacão, jararaca), B. cotiara (cotiara), B. neuwiedi (jararaca pintada).
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Jararaca (Bothrops)
Possui fosseta loreal ou lacrimal, tendo a extremidade da cauda com escamas e cor geralmente parda.
Nomes populares – Caiçaca, Jararacuçu, Urutu, Jararaca de Rabo Branco, Cotiara, Cruzeira e outros.
Algumas espécies são mais agressivas e encontram-se geralmente em locais úmidos.
São responsáveis por 70% dos acidentes ofídicos no Estado
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Ações do Veneno
- Ação proteolítica – As lesões locais como edema, bolhas e necrose, atribuídas inicialmente à “ação proteolítica”, tem patogênese complexa. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno.
- Ação coagulante – A maioria dos venenos botrópicos ativa, de modo isolado ou simultâneo, o fator X e a protrombina. Possuem também ação semelhante à trombina, convertendo o fibrinogênio em fibrina. Essas ações produzem distúrbios da coagulação, caracterizados por consumo dos seus fatores, geração de produtos de degradação de fibrina em fibrinogênio, podendo ocasionar incoagulabilidadesangüínea. Este quadro é semelhante ao da coagulação intravascular disseminada. Também podem levar a alteração da função plaquetária, bem como plaquetopenia.
- Ação hemorrágica – Decorre da presença de hemorraginas, que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associada à plaquetopenia e alterações da coagulação.
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Quadro Clínico
- Manifestações locais – Dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável, geralmente de instalação precoce e caráter progressivo. Equimoses e sangramentos no ponto da picada são freqüentes. Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose.
- Manifestações sistêmicas – Além de sangramentos em ferimentos pré-existentes, são observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco de hemorragia uterina. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial, hipotermia e mais raramente, choque. Nos acidentes causados por filhotes de Bothrops predominam as alterações de coagulação; dor e edema locais podem estar ausentes.
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Classificação dos Acidentes Botrópicos
Com base nas manifestações clínicas e visando a terapêutica, os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave.
- Leve – forma mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do Tempo de Coagulação. O Tempo de Coagulação alterado pode ser o único elemento que possibilite o diagnóstico, principalmente em acidentes causados por filhotes de Bothrops (<40cm de comprimento).
- Moderado – caracterizado por dor intensa e edema local evidente, que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria.
- Grave – caracterizado por edema local endurado, podendo atingir todo o segmento picado, eventualmente com presença de equimoses e bolhas. Em decorrência de edema podem aparecer sinais de isquemia local devido a compressão dos feixes vásculo-nervosos. Manifestações sistêmicas importantes como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o caso como grave, independentemente do quadro local.
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Complicações
- Complicações locais – Podem ocorrer sindromecompartimental (em casos graves, tratado por fasciotomia), abcessos, necrose (em extremidades de dedos pode evoluir para gangrena, devem ser tratados com debridamento).
- Complicações sistêmicas – choque (em casos graves) e Insuficiência Renal Aguda (IRA).
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Exames Complementares
- Tempo de Coagulação (TC) – De fácil execução, sua determinação é importante para elucidação diagnóstica e para o acompanhamento dos casos. TC normal: até 10 min; TC alterado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: acima de 30 minutos.
- Hemograma – Geralmente revela leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável. Tempo de Protrombina (TP), Tempo de Protrombina Parcialmente Ativada (TPPA), Tempo de Trombina (TT) e Dosagem de Fibrinogênio podem ser pesquisados.
- Exame sumário de urina – Pode haver proteinúria, hematúria e leucocitúria.
- Outros exames laboratoriais – Depende da evolução clínica do paciente, com atenção aos eletrólitos, ureia e creatinina, visando detecção de insuficiência renal aguda. Métodos de imunodiagnóstico através da técnica de Elisa.
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Tratamento
- Tratamento específico – consiste no emprego, o mais precocemente possível do Soro Antibotrópico (SAB) ou, na falta deste, das associações antibotrópico-crotálico (SABC). Se TC permanecer alterado 24 horas após soroterapia, está indicado dose adicional de antiveneno. A posologia está indicada no Quadro Resumo no decorrer do capítulo.
- Tratamento geral – drenagem postural do segmento picado, analgesia, hidratação, antibioticoterapia quando evidências de infecção.
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Acidente Crotálico – Cascavel (Crotalus)
As serpentes do gênero Crotalus (cascavéis) distribuem-se de maneira irregular pelo país, determinando as variações com que a frequência de acidentes é registrada.
Responsáveis por cerca de 7,7 % dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, podendo representar até 30% dos acidentes em algumas regiões. Não são encontradas em regiões litorâneas. Apresentam o maior coeficiente de letalidade dentre todos os acidentes ofídicos (1,87%), pela frequência com que evoluem para insuficiência renal aguda (IRA).
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Cascavel (Crotalus)
Possui fosseta loreal ou lacrimal; a extremidade da cauda apresenta guizo ou chocalho de cor amarelada.
Nomes populares – Cascavel, Boicininga, Maracambóia, etc.
Essas serpentes são menos agressivas que as Jararacas e encontram-se geralmente em locais secos.
11% dos acidentes ofídicos no Estado são atribuídos às cascavéis.
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Ações do Veneno
As subespécies Crotalusdurissusterrificus e C.dcollineatus foram as mais estudadas sob o ponto de vista de seus venenos e também dos aspectos clínicos e laboratoriais encontrados nos envenenamentos.
- Ação neurotóxica – Fundamentalmente produzida pela crotoxina, uma neurotoxina de ação pré-sináptica, que atua nas terminações nervosas, inibindo a liberação de acetilcolina. Esta inibição é o principal responsável pelo bloqueio neuromuscular, do qual decorrem as paralisias motoras apresentadas pelos pacientes.
- Ação miotóxica – Produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise), com liberação de enzimas e mioglobina para o sangue, que são posteriormente excretadas pela urina. Não está perfeitamente identificada a fração do veneno que produz esse efeito miotóxico sistêmico, mas há referências experimentais de ação miotóxica local da crotoxina e da crotamina. A mioglobina excretada na urina foi erroneamente identificada como hemoglobina, atribuindo-se ao veneno uma atividade hemolítica in vivo. Estudos mais recentes não demonstraram a ocorrência de hemólise nos acidentes humanos.
- Ação coagulante – Decorre de atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina. O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea. Geralmente não há redução do número de plaquetas. As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.
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Quadro Clínico
- Manifestações locais – Podem ser encontradas as marcas das presas, edema e eritema discretos. Não há dor, ou se existe, é de pequena intensidade. Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema discreto ou eritema no ponto da picada. Procedimentos desaconselhados como garroteamento, sucção ou escarificação locais com finalidade de extrair o veneno, podem provocar edema acentuado e lesões cutâneas variáveis.
- Manifestações sistêmicas
- Gerais – Mal-estar, sudorese, náuseas, vômitos, cefaleia, secura da boca, prostração e sonolência ou inquietação, são de aparecimento precoce e podem estar relacionados a estímulos de origem diversas, nas quais devem atuar o medo e a tensão emocional desencadeada pelo acidente.
- Neurológicas – Decorrentes da ação neurotóxica do veneno: Apresentam-se nas primeiras horas e caracterizam o “fásciesmiastênica” (fásciesneurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, há oftalmoplegia e dificuldade de acomodação (visão turva) ou visão dupla (diplopia) e alteração do diâmetro pupilar (midríase). Com menor frequência pode aparecer paralisia velopalatina, com dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, modificações no olfato e no paladar. As alterações descritas são sintomas e sinais que regridem após 3 a 5 dias.
- Musculares – Decorrentes da Atividade Miotóxica: Caracterizam-se por dores musculares generalizadas (mialgias), de aparecimento precoce. A urina pode estar clara nas primeiras horas e assim permanecer, ou tornar-se avermelhada (mioglobinúria) e progressivamente marrom nas horas subsequentes, traduzindo a eliminação de quantidades variáveis de mioglobina, pigmento liberado pela necrose do tecido muscular esquelético (rabdomiólise). Não havendo dano renal, a urina readquire a sua coloração habitual em 1 ou 2 dias.
- Distúrbios da coagulação – Pode haver aumento do Tempo de Coagulação (TC) ou incoagulabilidade sanguínea, com queda do fibrinogênio plasmático, em aproximadamente 40% dos pacientes. Raramente há pequenos sangramentos, geralmente restritos às gengivas (gengivorragia).
- Manifestações clínicas pouco frequentes – Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de grupos musculares têm sido relatadas e interpretadas como decorrentes das atividades neurotóxicas e miotóxicas do veneno.
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Classificação dos Acidentes Crotálicos
- Leve – Sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, fásciesmiastênica discreta, mialgia discreta ou ausente, sem alteração da cor da urina.
- Moderado – Sinais e sintomas neurotóxicos: fásciesmiastênica evidente, mialgia discreta ou provocada ao exame. A urina pode apresentar coloração alterada.
- Grave – Sinais e sintoma neurotóxicos evidentes: fásciesmiastênica, fraqueza muscular, mialgia intensa e urina escura, podendo haver oligúria ou anúria, insuficiência respiratória.
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Complicações
- Locais – Raramente parestesias locais duradouras, porém reversíveis após algumas semanas.
- Sistêmicas – insuficiência renal aguda (IRA) com necrose tubular, geralmente de instalação nas primeiras 48 horas.
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Exames Complementares
- Sangue – Pode-se observar valores elevados de Creatinoquinase (CK) – mais precoce, desidrogenase lática (LDH) – mais lento e gradual, aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase (ALT) e aldose. TC frequentemente está prolongado. Hemograma pode mostrar leucocitose, com neutrofilia e desvio à esquerda.
- Na fase oligúrica da IRA – Elevado: uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio. Diminui: calcemia.
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Tratamento
- Específico – Soro Anticrotálico (SAC) EV. Dose varia de acordo com gravidade do caso. Poderá ser utilizado o Soro Antibotrópico-crotálico (SABC). Ver posologia no Quadro Resumo, no decorrer do capítulo.
- Geral – Hidratação adequada (fundamental para prevenir IRA), será satisfatória se fluxo urinário de 1 a 2 ml/Kg/h na criança e 30 a 40 ml/h no adulto. Diurese osmótica pode ser induzida com manitol a 20% (5m/Kg na criança e 100ml no adulto), persistindo oligúria, pode-se utilizar diuréticos de alça tipo furosemida EV (1ml/Kg/dose na criança e 40 mg/dose no adulto). O pH urinário deve ser mantido acima de 6,5 com bicarbonato de sódio (urina ácida potencia a precipitação intraglobular de mioglobina), monitorar por controle gasométrico.
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Acidente Elapídico – Coral Verdadeira (Micrurus)
A maioria das 18 espécies do gênero Micrurus (serpentes corais) possuem um padrão de cor representado por anéis corporais em uma combinação de vermelho (ou alaranjado), branco (ou amarelo) e preto. A presença da cor vermelha é uma indicação de perigo (coloração aposemática) para potenciais predadores, especialmente pássaros.
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A letalidade corresponde a 0,4%. Pode evoluir para insuficiência renal aguda, causa de óbito neste tipo de envenenamento.
Seus acidentes são raros, porém, pelo risco de insuficiência respiratória aguda, devem ser considerados como graves.
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Coral Verdadeira (Micrurus)
Não possui fosseta loreal (Atenção: aus~encia de fosseta loureal é característica de não venenosas. As Corais são exceção).
Coloração em anéis vermelhos, pretos, brancos e amarelos.
Nomes populares – Coral, Coral Verdadeira, Boicorá, etc.
São encontradas em tocas – hábitos subterrâneos.
Essas serpentes não são agressivas.
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Ações do Veneno
Os constituintes tóxicos do veneno são denominados neurotoxinas (NTXs) e atuam da seguinte maneira:
- NTX de ação pós-sináptica – Presentes em todos os venenos elapídicos. São rapidamente absorvidos para a circulação sistêmica e difundidos para os tecidos, devido ao baixo peso molecular, explicando a precocidade dos sintomas do envenenamento. As NTXs competem com a acetilcolina (Ach) pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos onde predomina essa ação (Micrurusaltirostris – antigamente M frontalis), o uso de substâncias anticolinesterásicas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a vida média do neurotransmissor (Ach), levando a uma rápida melhora da sintomatologia.
- NTX de ação pré-sináptica – Estão presentes em algumas corais (M corallinus) e também em alguns Viperídeos, como a cascavel sul-americana. Atuam na junção neuro-muscular, bloqueando a liberação de Ach pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas.
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Quadro Clínico
Os sintomas podem surgir precocemente, em menos de 1 hora (45-75min) após o acidente. Há relatos de aparecimento tardio dos sintomas, por isso recomenda-se a observação clínica por 24 horas.
- Manifestações locais – Dor local e discreta (muitas vezes ausente) acompanhado de parestesia de progressão proximal.
- Manifestações sistêmicas – Inicialmente, vômitos, posteriormente fraqueza muscular progressiva, ptose palpebral, sonolência, perda de equilíbrio, sialorréia, oftalmoplegia e presença de fásciesmiastênica. Podem surgir mialgia localizada ou generalizada, dificuldade de deglutir e afonia, devido a paralisia do véu palatino. O quadro de paralisia flácida pode comprometer a musculatura respiratória, evoluindo para apnéia e insuficiência respiratória aguda (esta considerada uma complicação do acidente).
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Exames Complementares
- Não há específicos para o diagnóstico.
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Tratamento
- Tratamento específico – preconiza-se o uso de 10 ampolas de Soro Antielapídico (SAE), via intravenosa. Todos os casos de acidentes por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como potencialmente graves.
- Tratamento geral – nas manifestações de insuficiência respiratória é fundamental ventilação (máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU, ventilação mecânica). Uso de anticolinesterásicos (neostigmina): aplicar 0,05mg/Kg em crianças ou 1 ampola no adulto, por via IV; a resposta é rápida, com melhora evidente do quadro neurotóxico nos primeiros 10min. Se houver melhora, a dose de manutenção da neostigmina é de 0,05 a 0,1mg/Kg, IV, a cada 4 horas ou em intervalos menores, precedida da administração de atropina (antagonista competitivo dos efeitos muscarínicos da Ach, principalmente a bradicardia e a hipersecreção).
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Acidente Lachético – Surucucu (Lachesis)
Os acidentes com serpentes do gênero Lachesis são raros. É a maior serpente da América Latina, podendo chegar a 4 metros. No Brasil, o gênero Lachesismuta, conhecido popularmente como surucucu, pico-de-jaca, surucutinga, malha de fogo, possui duas subespécies: Lachesismutamuta e Lachesismutarhombeata. Habitam áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste.
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Ações do Veneno
- O veneno apresenta atividade proteolítica, hemorrágica e coagulante. É relatado também ação neurotóxica, porém ainda não foi isolada a fração específica responsável por esta atividade. A ação proteolítica pode ser comprovada “in vitro” pela presença de proteases. Trabalhos experimentais demonstraram intensa atividade hemorrágica do veneno da Lachesismutamuta, com atividade “trombina like”.
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Quadro Clínico
- Manifestações locais – Semelhantes às do acidente botrópico, predominando dor e edema. Podem surgir vesículas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico nas primeiras horas do acidente. Manifestações hemorrágicas, na maioria dos casos no local da picada.
- Manifestações sistêmicas – Hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e diarreia (“síndrome vagal”).
Os acidentes laquéticos são classificados como moderados e graves.
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Exames Complementares
- Determinação do Tempo de Coagulação – TC e outros, segundo a evolução do quadro.
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Tratamento
- De acordo com a gravidade do acidente e manifestações vagais, administrar 10 a 20 ampolas de soro antilaquético por via intravenosa. Controle das manifestações vagais.
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Fonte: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Acidentes-por-Serpentes– Os textos deste post foram compartilhados do Site do Saúde, cabendo a estes os direitos autorais.