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IMPACTOS DO ISOLAMENTO SOCIAL EM TRANSTORNOS POR USO DE ÁLCOOL

Isolamento social pode ser fator de risco para consumo nocivo de álcool.

A quarentena é uma das principais medidas adotadas, no mundo todo, para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Apesar de ser uma estratégia eficaz para a Saúde Pública, o distanciamento social pode ter impactos psicológicos negativos a curto e longo prazo, de acordo com uma revisão publicada na revista científica The Lancet. Pessoas com histórico de transtornos mentais, ou em tratamento, estão mais vulneráveis a esses efeitos.

Em quadros de transtornos por uso de substâncias, como o alcoolismo, o afastamento de grupos de apoio e mudanças na rotina podem ser gatilhos para recaídas. É importante lembrar que a dependência é uma doença crônica, assim como diabetes, hipertensão ou asma, com momentos de melhora e piora dos sintomas. Recaídas fazem parte do quadro, mesmo durante o tratamento, e tendem a acontecer especialmente em situações estressantes como a que estamos vivendo.

O forte desejo de beber e a dificuldade em controlar o consumo são os sintomas mais evidentes do alcoolismo. Todavia, a recusa em admitir o problema – quadro conhecido como negação – é um sintoma que pode piorar ainda mais a situação, atrasando a busca por tratamento e levando o dependente a beber escondido ou sozinho.

De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico Addictive Behaviors, o hábito de beber sozinho está associado ao desenvolvimento de problemas relacionados ao álcool mesmo entre não-alcoolistas. A pesquisa avaliou a influência de contextos individuais e sociais de consumo de álcool na elaboração de expectativas e motivações para beber.

Os resultados indicaram que o comportamento de beber em grupo está associado a efeitos “positivos” do álcool, como a desinibição e a euforia. Já o hábito de beber sozinho esteve associado aos efeitos “negativos” do álcool, como o entorpecimento dos sentidos. Além da busca por esses efeitos, a motivação para beber sozinho foi associada ao enfrentamento de problemas pela maioria dos participantes da pesquisa.

Há, na literatura científica, diversas evidências que sugerem a associação de transtornos de ansiedade e depressão à motivação para beber. Em consonância com esses achados, os resultados da pesquisa de Corbin et al. (2020) indicaram que a associação entre beber sozinho e problemas relacionados ao álcool é particularmente robusta na presença desses transtornos. Durante a quarentena, período no qual beber em grupo deixa de ser uma opção, o risco dessa associação é maior, e pode ser agravado pela presença dos sintomas de ansiedade e depressão preexistentes ou desencadeados pelo próprio isolamento e pela situação de estresse decorrente da pandemia.

Ao passo que o distanciamento social, o medo e o estresse são fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de transtornos por uso de álcool, fortalecer laços afetivos e ter atitudes solidárias são estratégias que podem ajudar a diminuir o impacto da quarentena para a saúde mental.  Caso você conheça pessoas que sofram de transtornos mentais, estar disponível para ouvi-las e acolher seus anseios pode fazer muita diferença.

No Brasil, redes de apoio psicológico à distância foram criadas para diminuir o sofrimento psíquico ocasionado pela pandemia e a quarentena. Grupos de apoio já existentes, como os Álcoólicos Anônimos, suspenderam as atividades presenciais e passaram a realizar as reuniões online, de modo que os participantes não ficassem sem suporte durante o período de quarentena.

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